terça-feira, 24 de novembro de 2009

AS DÁDIVAS DA PERSISTÊNCIA

Há alguns anos, o sucesso das pessoas era medido de acordo com a sua capacidade intelectual. A inteligência foi posta em um patamar elevado e, segundo o entendimento da sociedade, aqueles que a possuíssem teriam um futuro brilhante em suas vidas. Era muito comum ouvirmos a expressão: o meu QI (quociente intelectual) é 122. O meu é 100! Isso soava como um termômetro de sucesso. Quanto mais elevado o QI, maior o sucesso. Para saber o nível de QI, eram aplicados alguns testes de capacidade cognitiva, mas o que ficou evidente com o passar dos anos foi a incapacidade de êxito apenas com o uso do QI. Muitos indivíduos experimentaram sucesso com base em outros fatores.

Entrou no cenário um novo elemento fundamental para o sucesso: a persistência. Percebeu-se que a inteligência, de maneira isolada, não proporcionava o que o senso comum acreditava, pois pessoas com “pouca capacidade intelectual” conseguiam se desenvolver e alcançar grandes coisas. E é notável que muitos não conseguem se desenvolver de modo positivo na vida por causa da pouca persistência. Ainda não descobriram o quanto é importante esta dádiva. São indivíduos com grande potencial intelectual, mas com baixíssimo índice de persistência.

Este quadro me lembra expressões de que gosto muito. O brasileiro diz: “sou brasileiro e não desisto nunca”. Expressão semelhante foi dita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama: “We can” (Nós podemos), incentivando o povo de seu país a permanecer acreditando em dias melhores, em meio a uma crise financeira de grandes proporções. Tais expressões revelam o desejo e, ao mesmo tempo, a capacidade humana de persistir contra a maré de dificuldades.

No campo da espiritualidade, não é muito diferente do que foi apresentado. Não é suficiente ser inteligente para galgar “sucesso” junto à pessoa de Deus, em seu Reino. As expressões ora mencionadas devem fazer parte do nosso vocabulário-prático (palavras e ações) para continuarmos na presença de Deus. Existem inúmeras pessoas servindo a Deus com uma capacidade intelectual incrível. Porém, muitas delas desistem pelo caminho. Qual a razão para isto? É justamente a falta de persistência nos propósitos estabelecidos.


O livro do Apocalipse segundo João retrata um período de intensos conflitos e sérias perseguições aos crentes em Jesus Cristo. Ao ler o texto, é possível visualizar a insuficiência de ser apenas inteligente para permanecer na fé cristã. A persistência tem um papel de extrema importância para chegar ao céu.

O escritor apresenta as palavras de Jesus: “ao vencedor” em sete passagens. Ele mostra a importância da persistência e as dádivas que a pessoa obterá ao desenvolver este estilo de vida. O contexto em que João escreveu esta carta apocalíptica era de muita perseguição e morte. Ele mesmo estava em uma ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e diz, no verso nove do capítulo primeiro, que era companheiro dos demais servos de Jesus na tribulação, no reino e na perseverança. Ele já apresenta de que maneira estava se comportando mesmo tendo sido preso injustamente.

Ele era persistente na presença de Deus! E João fala de algumas dádivas que a pessoa persistente receberá se continuar até o fim de sua vida servindo ao Senhor. Dádivas que nos deixam sem palavras, semelhante a um atleta que chega em primeiro lugar, inclinando sua cabeça para receber a medalha de honra. A emoção da vitória toma conta do seu ser e as palavras não saem como ele esperava, pois se lembra de todos os momentos de dificuldade e sofrimentos para chegar até ali.

Como um ex-atleta de natação, conheço bem o caminho para vencer. O objetivo de todo atleta é conquistar o primeiro lugar e, para isso, é preciso obedecer a um rigoroso treinamento, abster-se de uma série de alimentos, dormir bem, ou seja, nada de exageros pela noite, e uma preparação emocional muito grande.

Sabemos que, nos esportes, o vencedor é o que chega em primeiro lugar. Mas, no reino de Deus, todos os que chegarem ao final ouvirão a mesma frase: “servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” (Mateus 25.14ss). Todos podemos vencer e Deus espera que sejamos persistentes até o final.

Em Apocalipse 2.7: “Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus”. Do fruto que foi proibido a Adão e Eva após eles pecarem contra o Senhor, os vencedores poderão comer livremente.
Quando Ele diz “ao vencedor”, Ele esta dizendo “todos os que perseverarem”, e a perseverança exige esforço. Por isso Jesus declarou “entre os nascidos de mulher não houve nenhum maior do que João Batista; no entanto, o menor no reino dos céus é maior do que João Batista até os dias atuais o reino dos céus biazetai, e homens violentos o tomam pela graça. Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mateus 11. 11-13).


O verbo biazö significa “usar a força ou a violência”, e a forma pode ser tanto na voz passiva, “ser tratado à força”, ou na voz média, “exercer força”. Segundo as pesquisas do teólogo Dr G.E Ladd1, é mais adequado a uma perspectiva dinâmica do Reino de Deus, na qual Ele domina de maneira soberana na missão de Jesus, tomar o verbo como voz média, “o reino dos céus tem vindo violentamente”.2 “O domínio de Deus se impõe com grande força e os que são veementes entusiastas procuram se apossar dele, ou seja, desejam participar dele”,3 (Mateus 13.44;45:46;47). Esse poder se encontra operando poderosamente entre os homens na missão de Jesus Cristo de Nazaré. E ele exige uma reação igualmente poderosa por parte dos homens.
Esta exigência coloca o ensino de Jesus à parte do ensino rabínico. Para os rabinos os homens deveriam tomar sobre si o julgo do Reino e aceitar a Lei como a norma da vontade de Deus. Cristo ensinou que isso de modo nenhum era suficiente. Pelo contrário, Deus estava agindo poderosamente em sua própria missão, e, em virtude desta ação poderosa do Reino de Deus no mundo, todos os homens deveriam responder com uma reação radical.


Jesus descreveu esta reação com atos violentos: (Marcos 9. 43,47). São atos exigidos daqueles que desejam entrar no Reino. Em outro texto Jesus usa uma expressão violenta para denotar o desprezo que o indivíduo deveria dar à sua família por sua causa (Lucas 14.26). Ele não veio trazer paz, mas espada (Mateus10.34). A participação do Reino requer uma reação radical e uma persistência diária nos mandamentos do Senhor.

Todos os perseverantes se assentarão no trono de Deus. Quantos privilégios receberão esses valentes. Jesus afirma que os vencedores sentarão juntamente com Ele no trono do Todo Poderoso. Os vencedores terão poder sobre a morte, acesso ao maná escondido, nomes exclusivos dados pelo próprio Deus, autoridade para julgar as nações, vestes brancas para andar ao seu lado, nomes no livro da vida, serão colunas no santuário e terão a última e mais importante dádiva: “O vencedor herdará estas cousas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho” (Apocalipse 21.7). Receber a herança da nova Jerusalém que desce do céu, toda preparada, e viver eternamente com o Senhor são bênçãos exclusivas aos perseverantes.

“Aqui esta a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14.12).



Escrito por Anderson Roldão da Silva, natural de Catalão- GO, casado com Sarah de Carvalho Barros Silva. Atualmente é pastor auxiliar na Igreja de Cristo em Sobradinho II –DF e professor de Teologia na Faculdade Teológica Cristã do Brasil. Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Cristã do Brasil (FTCB), Integralizou em Teologia na Faculdade Evangélica de Brasília (FÉ),
é Pós- Graduado em Docência Superior e Recursos On-line pelo Instituto da Educação Superior de Brasília (IESB).

1 LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Editora: Exodus, São Paulo, 1997.
2 H. N Ridderbos, The Comming of the Kingdom (1963), p. 54.
3 R. Schanackenburg, God’s Rule and Kingdom, p. 132.

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